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Crueldade: cão é espancado e tem mandíbula amputada

Fétido, ensanguentado e uivando de dor. Assim foi encontrado Tigrão que, no último fim de semana, foi espancado e teve a mandíbula dilacerada.

Com um olho de ‘pirata’ e um rabo que balança timidamente ao ouvir as vozes daqueles que lhe socorreram, Tigrão – o vira-lata ‘patrimônio’ do bairro de Pernambués – carrega uma história de sofrimento e dor.

Recebendo o carinho da comunidade desde a morte do dono, em 2004, Tigrão foi vítima de uma agressão que lhe rendeu a mandíbula amputada e uma situação especial para o resto da vida. Sem os dentes incisivos que lhe permitem a mastigação, o animal foi condenado a comer rações especiais e alimento pastoso. “Uma vizinha me avisou que ele (o cão) não estava bem. Então, quando o vi, o trouxe logo para a clínica”, contou o professor Adelson, especialista em Educação Física, e que alimenta o animal, já conhecido na região. 

Em conversa com o site Bocão News, o professor contou um pouco da história de Tigrão, que muito se assemelha à realidade dos mais de 60 mil cachorros que vivem nas ruas da capital baiana, de acordo com o Centro de Zoonoses de Salvador. “Este cão é um guerreiro. Após a morte do dono, que teve tuberculose, Tigrão ficou pelas ruas e já até foi atropelado. Mas, em 2004, ele teve um tumor no pênis (clinicamente chamado de TVT -Tumor Venéreo Transmissível). Foram seis semanas de quimioterapia”, relatou.

Mas, desta vez, o forte cão fora surpreendido por uma dor quase insuportável. “Não sabemos o que aconteceu. Ele gosta de correr atrás de carros e motos. Não sabemos se foi chute, pancada, porrada. Já o encontramos cheio de sangue. Acho que deram muito chute nele”, afirmou Adelson.

Ao chegar na clínica, na segunda-feira (7) à noite, Tigrão foi recebido pelos ‘anjos da guarda’. A veterinária Márcia Albuquerque e Lívia Pereira. Empresária e mãe adotiva de oito cães, Márcia enfrenta há 12 anos – tempo que está na profissão, a batalha para garantir o carinho, cuidados e amor aos animais. “Ele chegou aqui muito fétido e cheio de sangue. Demos logo um banho nele e eu não tinha noção da gravidade do caso”, explicou a veterinária. Segundo a médica, Tigrão não queria ser tocado e só fazia chorar. “Apesar disso, de estar com muita dor, ele é dócil e bonzinho”, pontuou.

Após ser sedado, o animal passou pelo processo cirúrgico imediato e a amputação não pôde ser evitada. “A boca estava necrosada e com múltiplas fraturas. Infelizmente, não tivemos outra opção”, ressaltou a veterinária, explicando que o caso de Tigrão pode piorar – já que o tratamento será longo e não se sabe como toda a região atingida irá responder ao tratamento. “O movimento da língua não foi perdido, mas a mandíbula está amarrada com fio de aço e estamos buscando a cicatrização. Só daqui a 30 dias poderemos dizer se ele pode ou não perder o movimento, o reflexo por completo, ou não, fora o risco de infecção que é muito grande”, afirmou.


Apesar da gravidade, Tigrão tem respondido bem desde a operação e atendeu às expectativas das 24h pós- cirurgia. Porém, o animal está tomando antiflamatórios, antibióticos e precisa de algo mais importante ainda: um lar.

A veterinária Márcia, que está em Salvador há seis anos após deixar as terras cariocas, relatou que casos como o de Tigrão são comuns e muitos, até piores, já passaram pelas mãos dela. “Tenho cinco animais em casa e mais três aqui. Se eu pudesse ficaria com todos, mas não há como”, ressaltou já apresentando os amigos Lara – uma vira-lata agredida com paralelepípedo, tendo os olhos perfurados e a gatinha da raça Persa, que chegou esta semana após ser encontrada em um contêiner no Loteamento Aquarius. Ela estava com fratura na bacia e cheia de bicho. 

“O pedido que faço é para que haja um adotante para Tigrão e, principalmente, que se ponha um fim nestas atrocidades. Os animais têm sofrido muito maus tratos. Isso vemos na TV, nas ruas. Aqui a gente atende animais estuprados onde nem sei mais o que é vagina ou ânus. É terrível. Já peguei um caso que seis homens  - moradores de rua, estupraram uma cadela. Muitos donos só querem o animal quando é filhote. Depois, dizem que perde a graça. Precisa-se, urgentemente, que haja interesse por parte do Governo para que se preste socorro a estes animais e para que haja uma maior conscientização da população. Já Tigrão, assim como tantos outros, precisa de amor e de ajuda”, afirmou.

Márcia Albuquerque também criticou alguns projetos já levantados na Câmara Municipal que têm como foco os animais de rua. Entre eles, o Castramóvel e o Hospital Veterinário. “Acho que os projetos devem ser mais simples e eficazes. Um trabalho de incentivo à adoção deve ser feito. Deve-se sim fazer parcerias com as clínicas porque precisamos de incentivo do Governo. Construir um Hospital Veterinário se gasta muito e não atende à realidade imediata. Já para o Castramóvel é preciso pagar o motorista, o combustível. É importante fazer uma reunião com os veterinários que querem abraçar a causa porque, há sim, muitos que só pensam no comercial. Sem dúvida, muitos como eu podemos tirar um dia ou mais para castrar estes animais de rua, dar atendimentos, fazer o dia solidário. Não quero dinheiro para isso, quero apenas o material”, explicou.



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